Scarlatini Pseudonimus

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Alex foi um tipo que conheci aos 14 anos na escola secundária. Quis o destino que o contacto se mantivesse até hoje. Fomos para a Fonseca Benevides estudar Electrónica no 10º ano, fizemos o 12º na Cidade Universitária e fomos parar à Faculdade de Ciências nessa coisa fantástica que era o curso de Física. Quando saímos, fundámos juntamente com mais 16 loucos, um clube de Futsal que ainda hoje existe (cada vez com mais pujança) – o Académico Clube de Ciências (há 14 anos o nome parecia-me perfeito mas hoje … vá lá que o nome de guerra é ACC do Lumiar). De modo que ainda hoje aturo o Alex (sorry brother) quase diariamente.
Ao que parece quando chegamos a esta nossa idade temos necessidade de visitar o baú das nossas recordações. O Alex andou no dele e descobriu por lá uma coisa fabulosa para nós os dois. Em 1988 andávamos nós a sofrer com a Análise Matemática II (que versava sobre Cálculo Integral em RN). Sim que Física naquele curso nos primeiros anos, nem vê-la. Eram 2 cálculos por semestre temperados com uma Álgebra ou uma Estatística e uma Análise Numérica de sobremesa. Eram as bases … Bom mas dizia eu que andávamos nós a sofrer com aquilo fechados no quarto do Alex, quando de repente já fartinhos, vai de começar a gravar umas cenas meio alucinadas (talvez mesmo completamente alucinadas). O resultado foi decepcionante. Inaudível mesmo. 22 pedaços de ruído gravados numa cassete que nunca ninguém conseguiu ouvir com algum prazer. 20 anos depois o bom do Alex, lembrou-se de digitalizar aquela coisa toda, retirar algum ruído (algum porque se tirasse tudo, eram 24 longos pedaços de silêncio) e “editar” um CD. Uma edição limitada a 2 exemplares. Um para ele e outro para mim. No domingo de manhã, o Alex aparece num jogo do ACC e diz-me: “epá passei na FNAC e olha o que encontrei”. Já estão a ver. Um CD com uma capa irrepreensível, com uma foto histórica e uma letras brancas e vermelhas a dizer Scarlatini Pseudonimus, o suposto nome da coisa. Na contracapa os títulos das pérolas. Coisas do estilo: Cambodja Head, Anteontem Fui á Vila, Sexo no Oriente, Ó Sónia tira-me a insónia, Afinal a Baubina era preta ou (este é brilhante) Ó Elsa vai á fonte enquanto a bilha não enche. Para mim (e para o Alex) foi um prazer reviver aquelas tardes alucinantes, 20 anos depois.

P. S. – Mesmo com os Scarlatini Pseudonimus pelo meio, acabámos por passar a Análise Matemática II, eu com 15 e o Alex… não faço a mínima ideia, mas deve ter sido uma nota parecida, vá lá saber-sa porquê…

6 comentários:

Anónimo disse...

... e se soubéssemos analisar música, como sabiamos analisar matemática ... o que seriam os Scarlatini nos dias de hoje ...

Curiosamente, muitos dos “temas” são uma descrição "poética" do que era na altura o meu quarto ... muitas das coisa já se encontravam na “reciclagem” da minha memória, prontas para dar lugar a um qualquer facto banal (acontesse muito por volta dos 40)... felizmente, na minha lista de dependências, a nostalgia está bem no topo.

Em breve voltarei ao Báu ...
... Alex

"In the sunset of dissolution, everything is illuminated by the aura of nostalgia, even the guillotine." (Milan Kundera)

Dead Man 1 disse...

Foda-se Alex, não vais começar a chorar aqui pois não? :)

Alex Sed Lex disse...

Porra não sabia que se podia dizer asneiras =}

Morteélibertação disse...

Vocês são os maiores...!!!

Dead Man 1 disse...

As minhas idas ao baú têm sido bem sucedidas ultimamente. Esses regressos ao passado (ou talvez não)vão ficando documentados em O Regresso de Pan.

Cressélia disse...

Os baús de memórias, principalmente os de de boa qualidade, com muito material bom lá dentro, asseguram-nos que estamos vivos, que isto tem algum sentido e que somos, porque já fomos, capazes de fortes emoções, maluqueiras, intensidades de toda a espécie. Quando a vida se torna um pouco mais árida, revisitamo-los e sorrimos sempre.
Vocês dois, Scarlatini Pseudonimus, têm excelentes baús, e além disso mantêm olhar brilhante, a inesgotável irreverência, a avidez de tudo, o fabuloso vigor de quem ainda vive lá. Naquele tempo do baú. Que inveja.