Os 7 Marcos!!!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

1. Teísta Convicto, 100 por cento de probabilidade da existência de Deus. Nas palavras de C.G. Jung «eu não acredito, eu sei.»

2. Grande probabilidade, mas aquém dos 100 por cento. Teísta de facto. « Não posso ter a certeza, mas acredito firmemente em Deus e vivo a minha vida no pressuposto de que ele existe.»

3. Acima dos 50 por cento, mas não muito elevada . Tecnicamente Agnóstico, mas a tender para o teísmo. « Estou muito indeciso mas inclinado a acreditar em Deus.»

4. Exactamente 50 por cento. Agnóstico completamente imparcial. « A existência e a não existência de Deus são exactamente equiprováveis.»

5. Abaixo dos 50 por cento, mas não muito. Tecnicamente agnóstico, mas a tender para o ateísmo. « Não sei se Deus existe mas inclino-me para o cepticismo.»

6. Probabilidade muito baixa, mas acima de zero. Ateu de facto. « Não tenho a certeza, mas acho muito improvável Deus existir e vivo a minha vida no pressuposto de que não existe.»

7. Ateu convicto. « Sei que Deus não existe, com a mesma convicção com que Jung "sabe" que existe.»


Retirado da Obra A Desilusão De Deus de Richard Dawkins.

Qual é o teu marco???

"My Sweetheart the drunk"

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

De tempos a tempos pego na obra de Jeff Buckley e toca de ouvir tudo de empreitada. Muitas vezes seguidas. Na verdade não é muita coisa. Grace, é o único album de originais publicado durante a sua vida. Sketches for my sweetheart the drunk que devia ser só My sweetheart the drunk foi publicado já após a morte de Jeff Buckley. Há mais umas compilações e alguns registos ao vivo, mas o essencial resume-se a isto.
Ouvir Jeff Buckley não é fácil, pelo menos para mim. É preciso estado de espírito. Tudo me transporta para uma melancolia a roçar o desespero. Buckley tem uma doce melancolia que transparece por exemplo numa das melhores canções que alguma vez ouvi (Last Goodbye)

This is our last goodbye
I hate to feel the love between us die
But it's over
Just hear this and then i'll go
You gave me more to live for
More than you'll ever know
This is our last embrace
Must I dream and always see your face
Why can't we overcome this wall
Well, maybe it's just because i didn't know you at all
Last Goodbye – Jeff Buckley


Noutros momentos, a melancolia torna-se inocente, mas igualmente bela, desesperada e ternurenta (Morning Theft)


Meet me tomorrow night
Or any day you want I have no right to wonder
Just how, or when
You know the meaning fits
There's no relief in this
I miss my beautiful friend
I have to send it away
To bring her back again.
Morning Theft – Jeff Buckley

Há momentos alucinantes. Tumultosos mesmo. Os sentimentos misturam-se, a cena ganha velocidade, de repente estamos no fim. Não captámos tudo, temos de voltar atrás e tentar de novo (Vancouver)

This dream you've ridden on
Turns your world to explosions
You need to be alone
To heal this bleeding stone
Now, smell the rain of London it still insists
That we beg for our purity
As if we are pure in the rain of our contentment
As if I can think of this no more.
Vancouver – Jeff Buckley

Mas há também o lado premonitório. Na verdade muita coisa em Jeff Buckley é premonitória. Buckley morreu afogado nas ondas do Mississipi. Um dia apeteceu-lhe mergulhar no rio. Nightmares by the sea parece falar do que estaria para acontecer.


Stay with me under these waves, tonight
Be free for once in your life tonight
Nightmares by the sea – Jeff Buckley


Be free for once in your life tonight. Mesmo que “ser livre” lhe possa ter custado a vida, não deixo de encontrar algum fascínio na ideia. Esta ideia de que, nem que seja por um momento, nada importa a não ser o momento em si, sem consequências, sem a responsabilidade de sonhar, é qualquer coisa que não está ao alcance de todos. Só dos loucos? Talvez. Mesmo assim, be free for once in your life.

Os homens

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A dona do café sussurrou-me por trás do balcão: “Não gosto nada de ver estes grupos de homens aqui”. Olhei para o lado e eram 3 homens, normais, normalíssimos. Olhei interrogativamente e ela, sem som, apenas com os lábios disse-me a palavra. Os empregados de mesa trocaram comentários surdos com os clientes sentados. A cigana escondeu os óculos Dhristian Cior e Armanini que lamuriosamente impinge matinalmente aos clientes. Nas mesas os clientes limparam migalhas de forma nervosa e toda a gente se assegurou da sua compostura, de que tudo na mesa estava como devia ser. Eu própria verifiquei se tinha o pãozinho com manteiga bem enrolado num guardanapo limpinho e se estava a mexer o café com a rotação correcta. Ocorreu-me um lamento que ouvi há dias vindo da mesa atrás de mim, no restaurante onde almoço todos os dias, “É pior que uma pide…”. No silêncio que caiu no café só se ouvia a conversa dos 3 homens. Conversa tão normal como eles, mas seria?, “já há muito tempo que não vinha aqui”, “isto está tudo na mesma”, “vamos lá a ver o que é que há aqui” criavam suspeitas de linguagem de código. Todos no café ouviam com atenção, enquanto davam palpites mentais sobre as pistas que descobriam nas palavras dos homens. Às tantas um dos homens disse para a dona do café: “Olhe, se faz favor” – era agora! O café inteiro de olhos postos no homem, um silêncio, respirações contidas. “Embrulhe-me um pastel de nata.” Um suspiro de alívio percorreu os presentes. Regressou o ruído normal do café, os clientes encostaram-se para trás nas cadeiras, os empregados retomaram os pedidos e os homens pagaram e saíram.
Afinal não eram da asae.

Estética Fúnebre

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Já que o lucubre está a marcar o estilo da coisa, falemos de estética fúnebre. É um tema pouco debatido, basicamente porque temos receio dele, fica-se mais perto da morte e isso assusta. Falar sobre decorações funebres é também considerado um acto de mau gosto, daí não ser de espantar o mau gosto global dos nossos cemitérios. É evidente que ninguém diz nada, ninguém comenta que a campa de A tem imenso estilo e que a lápide de B é muito vulgar, ...Como os defuntos habitantes aceitam todo o tipo de ornamentos sem um murmúrio que seja, torna-se um tema de fraca discussão.

Correndo o risco de ser criticada, eu diria que aos falecidos não é dada paz ao nível estético e que a dignidade, discrecção e bom gosto da morte deixam cada vez mais a desejar face aos ornamentos, berloques e pequenos gadgets funerários que se podem encontrar por essas campas fora. As lojas dos chineses, com o seu habitual sentido de oportunidade, são um dos melhores fornecedores a este nível. Velas que não se apagam, anjos a pilhas, corações catrapiscantes e flores tão lindas que até parecem de plástico (as artificiais são agora aconselhadas pelos movimentos ecológicos), cruzes com leds e santinhas fluorescentes contaminam as campas, a dignidade e a elegância sóbria que deveria caracterizar o sítio. Aplacam-se os defuntos como se faz tudo o resto: de forma quantitativa e consumista, cedendo às pressões do modelo mais recente e à inveja da campa da vizinha. Tratam-se as campas como se fossem as casinhas dos mortos, com naperons e paninhos do pó e bibelots. É uma brincadeira num Portugal dos Pequeninos funerário onde falecidos e falecidas são tratados como monos ou miúdos amuados sem vontade de brincar. Sem dignidade e sem espírito de homenagem. Sem respeito e sem reflexão. Ostentatória para os vivos e esvaziada para os mortos. Até há cemitérios virtuais para.... não sei para quê.

Penso que a morte merece mais: há uma paz, um silêncio, uma sobriedade, um monocromatismo a manter. Há uma distância entre vivos e mortos que deve ser respeitada. Temos de aceitar o estado de perfeição e plenitude dos que cumpriram o ciclo e rendermo-nos a essa perfeição e contemplá-la. Rendermo-nos à nossa menoridade e não perturbar o regresso ao pó sereno, a calma fusão dos carbonos, a tranquilidade da terra, doce descanso, paz eterna. Há um Requiem em formato acústico que tem ser ouvido porque a lingua dos mortos não tem palavras. Há um despojamento para ser praticado, para ficarmos mais perto do nada. Um pensamento em silêncio, sem ninguém saber, mais que merecida homenagem, a mais verdadeira de todas. É aqui que reside a beleza da morte. É esta a estética funebre que aprecio.

A puta da vida

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ela, um pouco mais velha frequentava já os últimos anos da Universidade. Ele era mais jovem. Conheceram-se. Ela chegou ao fim daquela estrada, um novo cruzamento. Tomou o caminho da docência, ele prosseguia lentamente o seu trilho. Apaixonaram-se. Por algum tempo viajaram juntos em estradas diferentes convencidos de que o seu amor impossível tinha de ser escondido e reprimido. Viajar junto em estradas diferentes não é fácil. Durante anos, ninguém percebeu nada. O amor tornou-se turbulento e mal vivido. Faltava pouco para que ele chegasse à mesma estrada. Aí talvez pudessem gozar de todo aquele amor. A estrada dela, tinha uma curva mais apertada. Ela não a conseguiu negociar. Aquele amor ficou adiado…até à eternidade.

Porque a dor não passa aprende-se a viver com ela...Suportar as cicatrizes

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Apunhalado nas costas pela tua morte
Nao sobra nada
Estou vazio por dentro
Perdi o meu coracao a minha alma e nem o meu orgulho sobrou
Eu dava a minha vida para simplesmente voltar com o relogio atras se pelo menos o conseguisse fazer para uns instante antes...
Estou-me a tornar a Morte
Como posso dizer o que nao pode ser dito
Desejar ser uno com o aroma da morte
Banhar-me para sempre em lagrimas que nos vertemos
Se é o meu criador que vou conhecer...vou implorar-lhe para me desfazer
Véu levantado dos meus olhos
Vejo-me pela primeira vez
Ando a sustentar as cicatrizes da tua ausência e morte
Sepultado profundamente em mim próprio , onde se esconde o meu inimigo
Isto é a chegada da raiva
Um vírus em mim
Eu uno-me aos meus demónios , tão desesperadamente ... onde estavas tu DEUS, quando ela mais precisou de ti...onde andas tu?? SUSTENTAR AS CICATRIZES...é só o que posso fazer agora

Os Meninos do Comboio

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

S - A este falta um documento de filiação.
H – Mas no Atestado de Residência da Junta de Freguesia diz que ele é filho da sua mãe.
S – Isso não prova nada. Olhe neste o Atestado de Residência diz que vive em Portugal desde 1999 mas não diz o dia. Tem de ir pedir outro atestado de residência.
H – OK
S – E a este falta o dia no Atestado de Residência e falta a cópia dos contratos de trabalho dos pais.
H – Sim, deixe-me apontar …
S – Este você diz aqui que é renovação mas não é.
H – Ai é, é
S – Deixe-me explicar-lhe. O ano passado era cabo-verdeano, este ano tem BI, é cidadão nacional, logo não é uma revalidação.
H – Quer dizer, se eu o inscrevesse com a Autorização de Residência do ano passado …
S – Pois, mas assim vai precisar de …e posteriormente a Federação vai …

Alguém falou de integração? No desporto parece que não! Nem em muitos outros lugares.O comboio é um conjunto de prédios numa freguesia de Loures. Foi assim baptizado por se assemelhar de facto a um comboio. A sua disposição relativamente ao resto da povoação faz lembrar um comboio parado na Gare. Poderia muito bem ser o comboio da integração a chegar. Poderia …Mas não é. Os meninos do comboio são diferentes de facto. Nos hábitos, no tratamento que recebem, frequentemente na cor da pele, etc. E pagam bem cara essa diferença. Para praticar desporto têm de arranjar 2 ou 3 vezes mais documentos de que os outros, aqueles que andam na mesma escola, que não precisam. Têm de pagar por esses documentos um dinheiro que de todo não têm. Quando finalmente alguém os inscreve, custam 10 vezes mais que os outros. Que esperar dos meninos do comboio? Daqueles que gozam uns com os outros, porque Y não tem BI, Z não tem AR, W não tem passaporte. Na escola têm de ser iguais? Na verdade não têm. A mim parece-me que alguns meninos do comboio são cirurgicamente castigados na escola, de forma a que a esta se possa ver livre deles. O desporto devia funcionar como um mecanismo de integração, mas não funciona.Parece que afinal o comboio está de partida.