A dona do café sussurrou-me por trás do balcão: “Não gosto nada de ver estes grupos de homens aqui”. Olhei para o lado e eram 3 homens, normais, normalíssimos. Olhei interrogativamente e ela, sem som, apenas com os lábios disse-me a palavra. Os empregados de mesa trocaram comentários surdos com os clientes sentados. A cigana escondeu os óculos Dhristian Cior e Armanini que lamuriosamente impinge matinalmente aos clientes. Nas mesas os clientes limparam migalhas de forma nervosa e toda a gente se assegurou da sua compostura, de que tudo na mesa estava como devia ser. Eu própria verifiquei se tinha o pãozinho com manteiga bem enrolado num guardanapo limpinho e se estava a mexer o café com a rotação correcta. Ocorreu-me um lamento que ouvi há dias vindo da mesa atrás de mim, no restaurante onde almoço todos os dias, “É pior que uma pide…”. No silêncio que caiu no café só se ouvia a conversa dos 3 homens. Conversa tão normal como eles, mas seria?, “já há muito tempo que não vinha aqui”, “isto está tudo na mesma”, “vamos lá a ver o que é que há aqui” criavam suspeitas de linguagem de código. Todos no café ouviam com atenção, enquanto davam palpites mentais sobre as pistas que descobriam nas palavras dos homens. Às tantas um dos homens disse para a dona do café: “Olhe, se faz favor” – era agora! O café inteiro de olhos postos no homem, um silêncio, respirações contidas. “Embrulhe-me um pastel de nata.” Um suspiro de alívio percorreu os presentes. Regressou o ruído normal do café, os clientes encostaram-se para trás nas cadeiras, os empregados retomaram os pedidos e os homens pagaram e saíram.
Afinal não eram da asae.
Afinal não eram da asae.
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